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Fiquei na dúvida se deveria escrever esse texto. Eu não era muito próximo de Rafael Coelho. Mas a relação era respeitosa e fraterna. Eu sabia mais dele do que ele pensava. Não foram as poucas as vezes que Dr. Augusto (com esse falo diariamente) se dirigia a ele com a graça e admiração peculiar.
“Pai, o povo muda de calçada quando te vê. Você pede muito para esse hospital”, ele me dizia que o filho ralhava com ele, fazendo graça.
“Para de entrar em confusão de graça, você não tem nada com isso”, cobrava Rafael. E ele achava graça.
Os Coelhos quase nunca são unânimes. Mas que Rafael era unanimidade, bússola e porto seguro para todos eles, não há contestação.
“Vem gente da família de todo lugar. Sem intimidade, com ou sem liga, mas a família se uniu na dor e no tamanho da perda. Ele era ponte entre todos nós”, me disse Luiz Eduardo, meu amigo Duca, entre respiração ofegante e soluços.
Os três filhos estavam perfilados para receber os cumprimentos de todos. Ao lado de uma mãe contida e gritando por dentro, apenas balbuciavam frases soltas de agradecimento. A perda foi grande demais para qualquer ação ou reação.
Petrolina nunca mais tinha visto uma comoção desse tamanho. E por alguém que passava à margem da política, mas pedalava como os comuns em sua bicicleta simplória e sem grife, buscando o oxigênio que lhe faltou no final.
Érica, a esposa, apenas me disse que, do tamanho de sua humildade: ele Rafael, acharia que tanta gente, tanta manifestação, seria um exagero. Dona Marisa, a mãe, só observava com um olhar perdido para uma cena dura demais para qualquer mãe. Impossível demais.
Difícil escrever um texto desse tamanho, fugindo da pieguice e dos clichês. Da mesma forma que é impossível não se emocionar ou contar esse epitáfio duro, como se cada frase não dilacerasse a alma.
Continuo achando que pais não nasceram para enterrar filhos e toda morte é perda irreparável, mas algumas me parecem precipitadas e injustas, mesmo que eu seja um mero comum que apenas escreve um texto.
Rafael diria, em sua frase marcante: “Amanhã será melhor”.
Nesses momentos sempre lembro de uma música de Eric Clapton que escreveu em frangalhos a canção Tears in Heaven, que em tradução livre diz:
“Se eu te visse no céu?
Será que as coisas seriam iguais?
Será que você seguraria na minha mão?”
Carlos Britto, em um domingo triste demais
O post Um adeus fora de hora apareceu primeiro em Blog do Carlos Britto.
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