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Artigo do leitor: “O luto invisível da família brasileira”

Artigo do leitor: “O luto invisível da família brasileira”

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Neste novo artigo enviado ao Blog, o leitor Rivelino Liberalino chama atenção para a grande quantidade de divórcios registrada no país e observa detalhes pouco percebidos por muita gente.

Confiram:

O Brasil comemora recordes de divórcios como quem celebra medalhas de liberdade. Em 2023, mais de 386 mil casamentos foram desfeitos. São estatísticas frias que escondem mesas vazias, quartos silenciosos, sonhos interrompidos. A sociedade festeja a autonomia, mas silencia diante da dor. É mais fácil aplaudir o direito de ir embora do que enxergar quem ficou para trás. Por que ninguém fala da epidemia de divórcios? Talvez porque o vazio não rende manchete. Mas cada assinatura em cartório carrega um luto invisível. Homens entram em espirais de isolamento, mulheres veem sua renda cair de forma brutal, crianças são arremessadas a incertezas emocionais e escolares. O divórcio, que no papel liberta, na vida real pode aprisionar em solidão, dívida e depressão.

A cultura brasileira trata o casamento como triunfo social e o divórcio como fracasso íntimo. É uma lógica cruel. Enquanto a publicidade vende a família perfeita, a realidade mostra mães exaustas sustentando sozinhas seus filhos, pais afastados sobrevivendo em quartos alugados, crianças crescendo entre dois mundos que já não se encontram. Pesquisas da Fiocruz apontam que homens divorciados têm 2,4 vezes mais chances de desenvolver depressão do que os casados. O IBGE revela que mulheres perdem, em média, um terço da renda domiciliar após a separação. O Ipea mostra que filhos de pais separados enfrentam 40% mais dificuldades escolares. Não são meros números, são cicatrizes abertas em um tecido social que se desfaz.

O divórcio não é apenas a mudança de status civil. É uma crise existencial que atinge o coração da família. Para muitos homens, o trabalho se torna o único pilar que resta. Para muitas mulheres, a batalha é financeira e diária, acumulando a jornada tripla entre sustentar a casa, cuidar dos filhos e enfrentar o preconceito de ser chamada de “mãe solteira”. Para os filhos, a ferida é o silêncio da ausência, a pergunta não respondida: por que papai e mamãe não estão mais juntos?

Vivemos a era da liberdade conjugal, mas criamos uma multidão de divorciados sem rede, sem estrutura, sem acolhimento. A epidemia do divórcio é silenciosa, mas devastadora. Não se trata de condenar quem decide encerrar uma relação marcada por dor, violência ou desrespeito. Muitas vezes, separar-se é necessário. Mas é preciso reconhecer que o preço é alto e que ninguém preparou a sociedade para o depois. Mais de seis milhões de crianças vivem hoje em famílias monoparentais, a maioria chefiada por mulheres. O lar se reorganizou, mas o coração não.

Eis o paradoxo cruel: no Brasil, o divórcio liberta no papel, mas pode aprisionar na vida real. O silêncio sobre a crise dos divorciados revela um ponto cego da nossa cultura. Normalizamos casamentos fracassados, mas não criamos ferramentas para lidar com as consequências do fim. Resultado: milhões de pessoas vivendo entre estigma, solidão e precariedade. Falar de divórcio é falar de saúde mental, de desigualdade de gênero, de pobreza, de crianças sem base. É falar do Brasil real, aquele que não cabe no álbum de casamento.

Talvez reste apenas uma pergunta: se o casamento já não é eterno, quem está preparado para cuidar do que vem depois?

Rivelino Liberalino/Advogado

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